Que tipo de pessoas os suicidas buscam antes de morrer?
Uma pesquisa, realizada por Luoma e associados, de quarenta estudos post-mortem (necropsias psicológicas) mostra que 45% dos suicidas tinham visto alguém da área médica, usualmente um clínico geral, no mês anterior à sua morte.
Tomando um período maior, um ano, três em cada quatro tinham buscado ajuda médica de algum tipo. Suicidas idosos tinham percentagens ainda mais altas.
A maioria talvez não buscasse auxílio por detectar tendências suicidas em si mesmos. Somente 19% dos suicidas buscaram ajuda na área da saúde mental (psicanalistas, psiquiatras, trabalhadoras sociais, psicólogos etc.) no mês anterior ao suicídio; no ano anterior, foram 30%.
O que esses dados nos dizem? Uma parte importante dos suicidas parece enfrentar problemas sérios de saúde, não necessariamente de saúde mental. Esse dado significa que muitos estão com problemas de saúde física, até mesmo de envelhecimento, e que a busca por esse tipo de profissionais de saúde significa que eles devem ser melhor treinados para detectar sinais de intenção suicida.
Assim, é verdade que um número substancial de suicidas passa por profissionais da saúde mental pouco tempo antes do suicídio; também é verdade que um número maior passa por profissionais de saúde que não são profissionais de saúde mental. São “pontos” importantes que devem ser fortalecidos na prevenção dos suicídios. Profissionais de saúde em geral – e não somente profissionais de saúde mental – devem ser treinados para ver os sinais de intenção suicida.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ
A vida depois da escuridão
Publicada em 10/08/2011 às 19h04m no GLOBO
GLÁUCIO SOARES
Do balcão do 13º andar do Hyatt hotel, Elaine ouviu as vozes que diziam: “Vai! Pula! Não vai doer.” Elaine chegou a levantar o pé, mas ouviu outra voz, mais suave e doce: “Só vai ficar pior, muito pior, mas a decisão é sua.” Não pulou.
Dois dias mais tarde, Elaine, uma seguidora do irracional culto às armas nos Estados Unidos, estava, mais uma vez, cultivando a ideia do suicídio. Traduzindo do paper que ela própria escreveu (“A escuridão”): “Mais uma vez eu estava no mesmo estado de desespero. Fui ao closet e busquei a caixa com minha arma… Sentei no chão, com a arma numa mão e o carregador na outra. Na igreja falavam muito da presença de anjos protetores que se fazem sentir em situações de extrema necessidade. Essa presença é descrita como tranquilizadora e cheia de paz. Mas o que eu sentia sentada no chão com a arma na mão… era uma presença, muitas presenças, ao meu redor me apertando. Diziam: ‘Puxa o gatilho! Puxa o gatilho.’ Mas eu também ouvi outra voz que me dizia: ‘Todos os problemas têm solução, mas o que você pensa fazer não é uma solução. Não resolverá os problemas que você acha que tem e criará outros, muito piores. Você pode achar que é o fim da dor, mas não é. A dor e o desespero só vão aumentar. Se você deixar, eu ajudo você’.”
Elaine quase foi mais uma vítima cujo suicídio foi facilitado pela presença de uma arma em casa.
David Hemenway, da Harvard School of Public Health, demonstrou que a presença de armas em casa aumenta muito o risco de acidentes, homicídios e suicídios. Nos Estados Unidos, as pessoas se matam mais com armas de fogo do que com todos os demais meios somados. Elaine buscou ajuda das duas maneiras que ela conhecia: religiosa e psicológica. A psicológica foi dada por uma profissional, ainda que ligada à sua igreja. Para Elaine, religiosa, esse foi um embate clássico entre o Bem e o Mal; do ponto de vista das pesquisas sobre o suicídio, seguiu caminhos conhecidos, com história e explicação.
A história talvez tenha começado com o casamento dos pais, entre um homem forte, auto-centrado e dominante e uma mulher que é sua dependente em todos os sentidos. O pai mantinha a casa, e também era o pastor da igreja em que Elaine cresceu. Um workaholic, mais dedicado ao trabalho e à sua igreja do que à família. Elaine e a mãe eram coadjuvantes, figuras secundárias que viviam ao redor do macho Alfa. Problemas de saúde também contribuíram: devido a uma endometriose, Elaine fez uma histerectomia.
Sabia que não poderia ter filhos. Isso alterou a sua psicologia. Sua religiosidade e seu conservadorismo extremo (não podia usar shorts ou calças, ir ao cinema etc.) fizeram com que ela não soubesse lidar com homens, que buscasse um marido e casasse, virgem, seis meses depois de se conhecerem. O destino do casamento estava selado desde o início. Em pouco tempo as incompatibilidades cresceram. E veio o divórcio, que não reduziu o desejo de Elaine de construir uma família, nem de “ter” filhos. Repetiu o erro: casou pouco tempo depois, sem conhecer bem o noivo, George, que tinha dois filhos. George tinha um histórico de violência doméstica que ela não conhecia.
Viveram felizes dois anos, mas a atração pelo marido acabou e os problemas começaram. George queria que Elaine o satisfizesse frequentemente, não importa como. Quando Elaine não estava a fim, George a violava, usando de força, configurando o estupro doméstico. Do estupro e do abuso sexual à violência física a distância é curta. Foi somente quando os cortes e os hematomas apareceram que, com o auxílio intervencionista da família, Elaine se divorciou pela segunda vez.
Uma pesquisa recente (2009) informa que o abuso sexual é um indutor do suicídio, principalmente entre as mulheres. Bebbington e associados calcularam que zerar o abuso sexual na Grã-Bretanha acarretaria uma redução de 28% nos suicídios femininos.
Outras relações efêmeras não melhoraram o conceito que Elaine formara dos homens. Era o galinha que a abandonava depois de transar uma ou poucas vezes, deixando uma sensação de ser usada, multiplicada pela religiosidade, ou era o tipo cativante e promissor, que escondia que era casado. A descoberta era acompanhada da batidíssima explicação de que ele e a mulher “não tinham mais nada” e que só estavam juntos para proteger os filhos etc. A frustração de Elaine aumentava e a autoestima diminuía a cada fracasso afetivo.
No trabalho, Elaine conheceu Amanda, com um histórico semelhante. Se tornaram grandes amigas. Contaram e recontaram suas estórias pessoais e suas frustrações com os homens. Depois de uma festa de aniversário, Amanda a beijou e Elaine não correspondeu, mas não a impediu.
Em outro dia, Amanda insistiu: foi o início de uma relação de mais de três anos. Porém, o fundamentalismo religioso e o homossexualismo não combinam. Ir a uma sex-shop também não, nem viver com a amante. Elaine se afastou da igreja. Não conseguia conviver com a contradição. Stark e Lester analisaram dados referentes a quase 1.700 pessoas, concluindo que a aprovação do suicídio por qualquer razão se reduz com a frequência à igreja. O afastamento aumenta o risco.
Contudo, a relação mudou. Amanda, claramente a dominante, se tornou controladora, ciumenta e conflitiva. Havia um acordo, explícito, muito importante para Elaine, de segredo, indispensável porque trabalhavam no mesmo lugar. Após uma briga, Amanda revelou a quem quisesse ouvir a sua estória de amor com Elaine, a filha do pastor. Moravam na casa de Amanda, que expulsou Elaine de casa.
Elaine se sentiu traída por quem mais havia confiado. Os dias seguintes no escritório foram infernais. Risinhos, cochichos, deboches e até desafios à autoridade de Elaine que tinha a seu cargo uma subchefia.
Poucos dias depois, houve uma conferência no hotel Hyatt, onde esse artigo começou. Elaine redefiniu a sua vida, dedicando-se com maior afinco à sua profissão e também à religião. Ela continua a ver o que aconteceu como um embate entre o Bem e o Mal, que o Bem venceu, mas deixa amplo espaço para a terapia e a resolução dos seus problemas com a família.
Como muitas que sobreviveram a tentativas de suicídio, ou que pensaram seriamente em fazê-lo, superada a crise, Elaine percebeu que tinha outras funções e missões importantes. Circula no estado da Flórida, ajudando pessoas com necessidades nutritivas. Aconselha-as e as defende diante de seguradoras que não querem cumprir o contrato. Aos quase cinquenta anos, finalmente, Elaine se deu conta de que muitos deixaram de sofrer porque ela existe.
GLÁUCIO SOARES é sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio (Uerj).
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2011/08/10/a-vida-depois-da-escuridao-925107661.asp#ixzz1VaEw2ShB
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Suicídios de jovens e adolescentes: alguns fatores de risco
Suicídios de jovens e adolescentes: alguns fatores de risco
Quais são os fatores de risco de suicídio entre adolescentes? Como saber? Uma estratégia é comparar os dados dos suicidas com os de um grupo controle, com algumas características iguais – as que definiram a amostra de suicidas. Brent et al pesquisaram os documentos de 140 suicidas menores de 16 anos e os compararam com um grupo controle de 131 pessoas. Buscaram identificar fatores de risco. Os fatores com mais peso foram:
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doenças mentais sérias (mood disorders);
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psicopatologia paterna ou materna;
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história de abuso e violência contra a vítima;
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disponibilidade de arma de fogo e
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tentativas anteriores de suicídio.
Esses fatores aumentavam o risco de suicídio. O uso de drogas (isoladamente ou em comorbidade com outras psicopatologias) pesavam mais entre os com mais idade. Ideações e intenções suicidas eram mais frequente entre os jovens com mais idade. Os homens tinham um risco mais alto, em parte devido à forma que escolhida – mais adolescentes do sexo masculino usaram armas de fogo.1
1Age and sex-related risk factors for adolescent suicide Brent D.A.; Baugher M.; Bridge J.; Chen T.; Chiappetta L. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry Volume 38, Issue 12 1999 Pages 1497-1505.
Reduzir os suicídios, dificultando o acesso aos meios
David Lester, há muito tempo dedicado ao estudo do suicídio e do homicídio, comentou que, tradicionalmente, os métodos usados em políticas de redução das taxas de suicídio eram a criação de centros de prevenção e tratamento de pessoas com certas doenças mentais, particularmente as mais relacionadas com o suicídio, bipolaridade e depressão, com medicamentos e psicoterapia. Essas estratégias funcionavam bem com indivíduos, mas atingiam poucos suicidas potenciais, e seu efeito nas taxas de populações mais amplas era mínimo.
Isso levou Lester e outros a buscar outras diretrizes mais eficientes para basear as políticas públicas de redução dos suicídios. A mais relevante é dificultar o acesso a modos comuns usados nos suicídios. A inspiração veio da Inglaterra, objeto da proposta de Stengel (1964) que propôs que a mudança no gás usado nas casas foi crucial para a redução das taxas nacionais de suicídio. Não obstante, foi outro pesquisador, Kreitman quem, em 1976, demonstrou que a redução tinha sido o resultado da purificação do gás do carvão, amplamente usado nas residências inglesas. A percentagem do letal monóxido de carbono no gás derivado do carvão foi zerada. Em 1953 era 13%.
Ampliando essa estratégia, parte de uma política exitosa consiste em verificar quais as maneiras mais comuns de suicídio, reduzindo a sua disponibilidade.
Mudanças frequentes e suicídio de adolescentes
Há uma escala de estresse na vida que inclui muitas mudanças, inclusive as consideradas boas, como casar com alguém que se ama e nos ama. Mas a tendência é clara: quanto mais mudança na nossa vida, tanto mais estresse e, secundariamente, os problemas associados com o estresse.
Embora, na maioria dos países estudados, a taxa de suicídios tenda a subir com a idade, sobretudo com as idades avançadas, em vários ela sobe na adolescência e na maturidade jovem. Entre esses, em alguns ela desce depois, na maturidade, em outros não. O que explicaria esse crescimento, nos lugares em que ele acontece? Talvez comecemos a responder essa difícil pergunta, cuja resposta necessariamente inclui muitos fatores, comparando quem não se suicida com quem se suicida (ou tentam seriamente). Uma pesquisa desse tipo acaba de ser feita na Dinamarca.
O que descobriram? Que quanto mais a família se mudava de um lugar para outro, maior o risco de suicídio. Adolescentes entre 11 e 17 anos que mudaram dez ou mais vezes tinham um risco de tentar o suicídio quatro vez mais alto do que os que se mudaram que não se mudaram; os que se mudaram menos, entre de três a cinco vezes ficavam no meio: o dobro dos que nunca se mudaram e a metade dos que se mudaram dez vezes ou mais. Por conveniência de pesquisa, somente os que se mudaram de uma residência para outra na mesma rua não foram computados como mudanças.
O pesquisador principal, Dr. Ping Qin, do Centre for Register-Based Research na Aarhus University, está consciente de que a relação não é causal nem direta. As mudanças que trazem outras mudanças, como de escolas e grupos de amigos, são mais drástica. Eu hipotetizo que mudar entre lugares conhecidos é menos estressante do que para lugares desconhecidos.
Há muitas endogenias possíveis. As famílias que se movem mais podem ser menos estáveis como famílias, também podem enfrentar mais problemas financeiros, variáveis que afetam diretamente os adolescentes.
Esse estudo confirma outros que revelam que as crianças e adolescentes que mudam muito de residência têm mais alto risco de doenças mentais. Há outras variáveis que também são afetadas: o rendimento na escola, o risco de abandono da escola, assim como a sexualidade prematura.
Fonte: The Archives of General Psychiatry.
Escrito por Gláucio Soares
Cultura machista e homicídio/suicídio
Um caso recente ilustra a combinação entre variáveis mentais, circunstanciais e culturais num homicídio/suicídio (HS). Ocorreu em Surat, na Índia. Kajal Savani, a mãe, tinha problemas mentais parcialmente derivados das deficiências da filha, Priyanka, que era surda-muda e tinha (ou lhe atribuíam) deficiências mentais. Numa cultura em que mulheres sãs são cidadãs secundárias, as com deficiências enfrentam pesados problemas adicionais. Em algumas culturas, há instituições, públicas e privadas, que ajudariam a educar Priyanka e ajudariam a família a enfrentar esses problemas. Infelizmente, o status de mulher conta, e muito, na Índia e parte da cultura ainda integra o futuro da mulher ao de um homem, sem o qual não há futuro possível.
A família não enfrentava problemas financeiros. Encaro esse H/S como outro exemplo dos danos de uma cultura extremamente machista. Os aspectos culturais se revelaram também na maneira que Kajal selecionou para matar a filhinha e se matar: encharcou ambas com querosene e ateou fogo. Trabalhei muito nesse tipo de homicídio – acompanhado ou seguido de suicídio – e os resultados estão publicados em
SOARES, Gláucio Ary Dillon. Matar e, depois, morrer. Opin. Publica, 2002, vol.8, no.2, p.275-303. ISSN 0104-6276.
O artigo pode ser baixado através do Scielo
As cartas de suicidas
Em 1992, Leenars analisou cartas, notas e mensagens de suicidas. Poucos anos depois, uma enfermeira psiquiátrica, Sharon M. Valente,tomou as hipóteses de Leenars como orientação e analisou vinte e cinco notas de suicidas, comparando-as com as deixadas por outras que tentaram, mas não morreram. Há concordância em quer as duas populações são bem diferentes.
O universo examinado por Valente era consituídos por pessoas que estavam internadas em um hospital psiquiátrico. Não era amostra aleatória de suicidas, nem dos que tentaram, porque todos estavam internados.
Valente concluiu que a maioria envia sinais e que há importantes diferenças entre os dois grupos, os que morreram e os que sobreviveram. Não são farinha do mesmo saco. A maioria enviou/deixou mensagens.
O que as mensagens diziam? Falavam de quê?
- de sofrimento psicológico;
- de relações pessoais
- de rejeição-agressão
As notas suicidas são uma área muito difícil de pesquisar. Não obstante, podem salvar vidas e evitar muito sofrimento. Os que tratam de pacientes psiquiátricos (assim como seus parentes e amigos próximos) precisam ser treinados – muito bem treinados – para identificar quais os pacientes que estão enviando sinais suicidas.
Fonte: Clinical Nursing Research, Vol. 3, No. 4, 393-413 (1994)
As Relações entre a Idade e o Suicídio
As Relações entre a Idade e o Suicídio não são as mesmas em todas as culturas,em todos os países, em todos os tempos. Não obstante, há padrões. Padrões, por definição, se repetem. Estudando o suicídio entre os homens portugueses, de 1980 a 2002, verifiquei que o que acontece em Portugal se encaixa no padrão quase-linear. Não é estritamente retilinear porque a taxa aumenta nos grupos superiores de idade. Em verdade, talvez devêssemos construir os padrões a partir do valor das derivadas segunda, porque em muitos países eles tendem a aumentar com a idade, mas a aceleração nas idades maiores varia muito entre os países. O chamado padrão húngaro exibe uma alta aceleração, mas muitos países se caracterizam pelo aumento das taxas com a idade, mas não aumentam tanto nos intervalos superiores de idade. O conhecimento dessa relação pode nos ajudar a formular políticas públicas que sejam mais adequadas. Muitas coisas acontecem com a idade, como o aparecimento de mais doenças, taxas mais altas de viuvez, em muitos países maiores problemas financeiros; em outros, como o Brasil, somente para os que não estão vinculados ao setor público, particularmente o setor público federal.
Esse conhecimento nos permite adequar as políticas públicas às necessidades dos grupos-alvo. Uma política de prevenção do suicídio e de preservação da vida requer essas informações, mas esses subsídios não existirão enquanto nossos sociólogos se satisfizerem com citar autores clássicos, particularmente Dürkheim, sem pesquisar as características dos suicídios.
Comparação Internacional das Taxas de Suicídio
DADOS DA OMS
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Última Informação Disponível em Maio de 2003.
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Os posts mais visitados até agosto de 2008
Armas de fogo, idade e suicídio
Nos Estados Unidos, a presença de arma em casa é particularmente perigosa para os jovens. Birckmayer e Hemenway (2001) analisaram dados de duas fontes: os General Social Surveys de vários anos realizados pelo National Opinion Research Center, por um lado, e os dados de suicídio foram calculados a partir do National Health Statistics Mortality File. [i] Outras variáveis preditivas foram retiradas de fontes estatísticas federais.
A taxa de suicídios nos Estados Unidos, como no Brasil, mudou pouco de 1979 a 1994, oscilando, na maioria dos anos, entre 15 e 16 por cem mil habitantes. A percentagem dos suicídios que foram cometidos com armas de fogo é, comparativamente muito alta e também é relativamente estável, próxima a 60%. Estável e alta.
Os defensores das armas de fogo argumentam que a decisão do suicídio é inexorável e que, vedada a arma de fogo como instrumento, os suicidas estariam fadados a tentá-lo usando outros meios. Ou seja, a presença e/ou propriedade de armas de fogo seria irrelevante para o suicídio. Ele aconteceria de qualquer maneira. A pesquisa de Birckmayer e Hemenway contradiz esse suposto, pois encontrou uma correlação bivariada de 0,42 entre a percentagem das residências com armas de propriedade dos seus ocupantes e as taxas de suicídio. A associação é mais elevada, 0,60, com a taxa de suicídios com armas de fogo – como seria de esperar. Em verdade, os dados dizem que uma queda de dez por cento na taxa de propriedade de arma de fogo na residência provocaria uma baixa de 3% na taxa de suicídios.
Os autores controlaram variáveis que se correlacionam com a taxa de suicídios: taxa de divórcios, educação, desemprego e urbanização. Controlando por idades, a taxa de propriedade de arma de fogo na residência[ii], a taxa de divórcios e a medida de educação são as variáveis que continuam a ter um valor preditivo numa regressão múltipla.
[i] Ver “Suicide and Firearm Prevalence: are Youth Disproportionately Affected?” em Suicide and Life-Threatening Behavior(11) Fall 2001.
Armas de fogo, idade e suicídio
Nos Estados Unidos, a presença de arma em casa é particularmente perigosa para os jovens. Birckmayer e Hemenway (2001) analisaram dados de duas fontes: os General Social Surveys de vários anos realizados pelo National Opinion Research Center, por um lado, e os dados de suicídio foram calculados a partir do National Health Statistics Mortality File. [i] Outras variáveis preditivas foram retiradas de fontes estatísticas federais.
A taxa de suicídios nos Estados Unidos, como no Brasil, mudou pouco de 1979 a 1994, oscilando, na maioria dos anos, entre 15 e 16 por cem mil habitantes. A percentagem dos suicídios que foram cometidos com armas de fogo é, comparativamente muito alta e também é relativamente estável, próxima a 60%. Estável e alta.
Os defensores das armas de fogo argumentam que a decisão do suicídio é inexorável e que, vedada a arma de fogo como instrumento, os suicidas estariam fadados a tentá-lo usando outros meios. Ou seja, a presença e/ou propriedade de armas de fogo seria irrelevante para o suicídio. Ele aconteceria de qualquer maneira. A pesquisa de Birckmayer e Hemenway contradiz esse suposto, pois encontrou uma correlação bivariada de 0,42 entre a percentagem das residências com armas de propriedade dos seus ocupantes e as taxas de suicídio. A associação é mais elevada, 0,60, com a taxa de suicídios com armas de fogo – como seria de esperar. Em verdade, os dados dizem que uma queda de dez por cento na taxa de propriedade de arma de fogo na residência provocaria uma baixa de 3% na taxa de suicídios.
Os autores controlaram variáveis que se correlacionam com a taxa de suicídios: taxa de divórcios, educação, desemprego e urbanização. Controlando por idades, a taxa de propriedade de arma de fogo na residência[ii], a taxa de divórcios e a medida de educação são as variáveis que continuam a ter um valor preditivo numa regressão múltipla.
[i] Ver “Suicide and Firearm Prevalence: are Youth Disproportionately Affected?” em Suicide and Life-Threatening Behavior (11) Fall 2001.
[ii] Os autores usaram o logaritmo da taxa.
Armas de fogo, idade e suicídio
Nos Estados Unidos, a presença de arma em casa é particularmente perigosa para os jovens. Birckmayer e Hemenway (2001) analisaram dados de duas fontes: os General Social Surveys de vários anos realizados pelo National Opinion Research Center, por um lado, e os dados de suicídio foram calculados a partir do National Health Statistics Mortality File. [i] Outras variáveis preditivas foram retiradas de fontes estatísticas federais.
A taxa de suicídios nos Estados Unidos, como no Brasil, mudou pouco de 1979 a 1994, oscilando, na maioria dos anos, entre 15 e 16 por cem mil habitantes. A percentagem dos suicídios que foram cometidos com armas de fogo é, comparativamente muito alta e também é relativamente estável, próxima a 60%. Estável e alta.
Os defensores das armas de fogo argumentam que a decisão do suicídio é inexorável e que, vedada a arma de fogo como instrumento, os suicidas estariam fadados a tentá-lo usando outros meios. Ou seja, a presença e/ou propriedade de armas de fogo seria irrelevante para o suicídio. Ele aconteceria de qualquer maneira. A pesquisa de Birckmayer e Hemenway contradiz esse suposto, pois encontrou uma correlação bivariada de 0,42 entre a percentagem das residências com armas de propriedade dos seus ocupantes e as taxas de suicídio. A associação é mais elevada, 0,60, com a taxa de suicídios com armas de fogo – como seria de esperar. Em verdade, os dados dizem que uma queda de dez por cento na taxa de propriedade de arma de fogo na residência provocaria uma baixa de 3% na taxa de suicídios.
Os autores controlaram variáveis que se correlacionam com a taxa de suicídios: taxa de divórcios, educação, desemprego e urbanização. Controlando por idades, a taxa de propriedade de arma de fogo na residência[ii], a taxa de divórcios e a medida de educação são as variáveis que continuam a ter um valor preditivo numa regressão múltipla.
[i] Ver “Suicide and Firearm Prevalence: are Youth Disproportionately Affected?” em Suicide and Life-Threatening Behavior(11) Fall 2001.
Doenças e tentativas de suicídio
As tentativas de suicídio tem sido pesquisadas mundo afora. Nos artigos técnicos as tentativas são chamadas de parasuicídios. Para pesquisar bem esse fenômeno, usando instrumentos comparáveis, os europeus desenvolveram um questionário chamado de European Parasuicide Study Interview Schedule – EPSIS. Uma pesquisa aplicou o questionário a 1.269 pessoas que tentaram o suicídio, com 15 anos ou mais de idade, logo depois da tentativa (até uma semana depois). O questionário é longo e inclui perguntas sobre a saúde física e mental. Os resultados mostram que muitas pessoas que tentam o suicídio têm problemas de saúde. Uma em cada duas sofria de algum tipo de doença aguda ou crônica, que reaparecia logo antes da tentativa de suicídio, sugerindo que há uma relação causal. As pessoas com doenças físicas tinham depressões sérias com mais freqüência do que as demais, particularmente entre as maduras, ainda mais do que as idosas. Um momento particularmente negativo era quando uma doença crônica reaparecia, a “volta” da doença que muitos julgavam curada. Dos doentes, 42% afirmaram que a doença precipitou a tentativa e 22% que era uma das principais causas. Os fisicamente doentes que os fatores mentais – sintomas e desordens – haviam sido importantes estímulos para a tentativa. As doenças físicas, incluindo cânceres, problemas cardíacos e derrames, são condições importantes na determinação da tentativa de morrer.
Esses resultados mostram que médicos e enfermeiras devem ter um cuidado especial com os seus pacientes porque são muitos suscetíveis à sedução suicida.
O estudo foi feito por pesquisadores da Universita Degli Studi di Padova. Physical illness and parasuicide: Evidence from the European parasuicide study interview schedule (EPSIS/WHO-EURO)
Doenças e tentativas de suicídio
As tentativas de suicídio tem sido pesquisadas mundo afora. Nos artigos técnicos as tentativas são chamadas de parasuicídios. Para pesquisar bem esse fenômeno, usando instrumentos comparáveis, os europeus desenvolveram um questionário chamado de European Parasuicide Study Interview Schedule – EPSIS. Uma pesquisa aplicou o questionário a 1.269 pessoas que tentaram o suicídio, com 15 anos ou mais de idade, logo depois da tentativa (até uma semana depois). O questionário é longo e inclui perguntas sobre a saúde física e mental. Os resultados mostram que muitas pessoas que tentam o suicídio têm problemas de saúde. Uma em cada duas sofria de algum tipo de doença aguda ou crônica, que reaparecia logo antes da tentativa de suicídio, sugerindo que há uma relação causal. As pessoas com doenças físicas tinham depressões sérias com mais freqüência do que as demais, particularmente entre as maduras, ainda mais do que as idosas. Um momento particularmente negativo era quando uma doença crônica reaparecia, a “volta” da doença que muitos julgavam curada. Dos doentes, 42% afirmaram que a doença precipitou a tentativa e 22% que era uma das principais causas. Os fisicamente doentes que os fatores mentais – sintomas e desordens – haviam sido importantes estímulos para a tentativa. As doenças físicas, incluindo cânceres, problemas cardíacos e derrames, são condições importantes na determinação da tentativa de morrer.
Esses resultados mostram que médicos e enfermeiras devem ter um cuidado especial com os seus pacientes porque são muitos suscetíveis à sedução suicida.
O estudo foi feito por pesquisadores da Universita Degli Studi di Padova. Physical illness and parasuicide: Evidence from the European parasuicide study interview schedule (EPSIS/WHO-EURO)
Dormir mal é viver pouco
A Universidade de Minnesota acompanhou perto de três mil homens com mais de 67 anos. Usaram uma pulseira, chamada actigraph, que registrava seus ritmos biológicos 24 horas por dia. Fizeram isso durante uma semana (é uma deficiência da pesquisa por ser um período curto). Até janeiro de 2008, 180 idosos desse grupo tinham morrido.
Um conceito fundamental nessa pesquisa é o da hora de máxima atividade,quando nossa atividade está no auge e o outro o de ritmos sarcadianos, que são ritmos de nossos corpos – variam com a hora do dia e com a estação.Pois bem, os que tinham picos (auges) muito cedo ou muito tarde tinham morrido mais. Em verdade, a taxa de mortalidade deles foi muito mais alta.
Misti Paudel, responsável pela pesquisa, enfatiza a necessidade de rotinas diárias e que acordar cedo demais ou dormir muito tarde afetam a saúde. Resultados semelhantes foram obtidos com pacientes de câncer e de Alzheimer’s, mas o grupo estudado era de idosos em boa saúde. Uma boa noite de sono é um dos preditores mais importantes da saúde das pessoas. É preciso levar o sono em sério. A falta de um bom padrão no sono se associa com a depressão, com problemas de memória, problemas com a concentração durante o dia e aumenta o risco de obesidade, problemas cardiovasculares, inclusive derrames, e diabete.
Isso implica em tomar medidas com eficiência demonstrada na determinação de um bom sono e evitar as que perturbam o sono. Não se trata de falar a respeito, de ficar neurótico com o sono, mas de consultar um especialista em problemas de sono (eles existem) e não um clínico geral e tomar as medidas adequadas para garantir um bom padrão de sono.
Mais importante ainda é ter ritmos diários robustos: muita atividade durante o dia e nenhuma durante a noite. À noite, só sono. A presença de ritmos robustos reduz muito o risco de morte.
Esses resultados foram apresentados ontem à Associated Professional Sleep Societies Conference. Buscar em http://www.umn.edu/
Tentativas de suicídio entre pessoas deprimidas
Pesquisadores canadenses decidiram analisar as correlatas do suicídio entre pessoas com depressão. Entre os que sofrem de depressão, o que mais se associa com as tentativas de suicídio? Usaram dados de uma ampla pesquisa (mais de 43 mil pessoas), chamada National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions (NESARC), feita em 2001 e 2002. O interessante é que os autores misturaram variáveis sócio-demográficas, variáveis psiquiátricas e sintomas específicos da depressão. Usualmente, pesquisadores que trabalham com um tipo de variáveis tendem a subestimar os outros. Das 43 mil, um pouco mais de cinco mil tinham uma história de depressão que cobria boa parte da vida. 865 tinham uma história de tentativas de suicídios e 4.263 não tinham. Os pesquisadores tentaram explicar as diferenças usando regressões logísticas. Os resultados mostram que essas tentativas são mais comuns entre pessoas com renda baixa , entre hispânicos </span><span e entre jovens. Há, também, importantes variáveis psicológicas e psiquiátricas. A presença de ansiedade e de desordens de personalidade, assim como de dependência química (incluíndo álcool) se relacionavam significativamente com uma história pessoal de tentativas de suicídio , para cada uma delas. Porém, havia diferenças entre os gêneros. Em homens, as tentativas estavam associadas a uma desordem chamada de personalidade dependente que aumentava em quase quatro vezes o risco de tentativas de suicídio – razão de risco ajustada = 3,81; 95% CI = 1,14 to 12,73); porém, entre as mulheres, as tentativas estavam mais associadas com desordens anti-sociais de personalidade (razão de risco ajustada = 2,71; 95% CI = 1,72 to 4,25). Essa condição aumentava o risco em quase três vezes (2,71). O poder preditivo dessas variáveis é grande: a “desordem da personalidade dependente” previa as tentativas de suicídio em quase três quartos dos homens deprimidos. O sintoma mais associado com tentar suicídios – tanto entre homens quanto entre mulheres – é o sentimento de não valer nada, de inutilidade (feelings of worthlessness). Esse sentimento aumentava o risco de tentativa de suicídio em 5,48 vezes entre os homens e 4,93 entre as mulheres.
Esse estudo demonstra que, mesmo entre pessoas com depressão, há várias características que aumentam o risco de tentar o suicídio. Os deprimidos não são uma massa homogênea. Conhecer as diferenças dentro desse grupo aumenta nosso poder explicativo.
“Exploring the Correlates of Suicide Attempts Among Individuals With Major Depressive Disorder: Findings From the National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions”, em J Clin Psychiatry, 2008 May 27.
Você e seu médico. Quando o desconhecimento do seu médico pode lhe matar.
Depressão e genética
Como saber se a gente herda a depressão dos pais ou se aprende a depressão com eles? Os que negam totalmente a genética afirmam que a depressão é aprendida e só. É aí que os estudos com gêmeos e com adotados passam a ser muito importantes.
O que eles mostram?
- Primeiro, que os adotados cujos pais biológicos sofrem ou sofreram de depressão tem risco mais alto de terem episódios depressivos do que outros adotados, cujos pais biológicos não sofrem nem sofreram de depressão. A aprendizagem não explica isso.
- As pesquisas com gêmeos são ainda mais convincentes. Entre gêmeos identicos (univitelinos), se um dos irmãos tiver episódios depressivos o risco de que o outro irmão os tenha é mais alto do que com irmãos não identicos, bivitelinos.
- Isso não quer dizer que, mesmo entre gêmeos idênticos, se um irmão tiver episódios depressivos o outro está condenado a tê-los também. Somente em 40% dos casos os dois irmãos idênticos experimentam episódios depressivos. Os irmãos idênticos tem, apenas, risco mais alto de ter episódios depressivos do que os não idênticos quando o outro irmão tiver episódios depressivos.
- Ter risco genético mais elevado não significa que a depressão não é tratável, controlável ou curável.
Esse raciocínio se aplica a outros tipos de conduta e problemas parcialmente genéticos e parcialmente aprendidos.
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